O poster acima dá uma idéia correta do filme. E uma errada. O que há de mais fraco em Shortbus é seu desejo de apontar uma possibilidade nova para relacionamentos amorosos. O final do filme é óbvio demais, por conta disso, com seu otimismo que tudo esquece.
Mas, até lá, o filme reflete sobre algumas questões bem interessantes. A imagem dominante nesse filme é a pele. Há pele pelo filme inteiro. Muito contato entre peles (muitas pessoas, aliás, reclamam do filme por ser gráfico demais). Ela chega a ser nomeada por uma personagem, que diz ter consciência de tudo de bom que tem à sua volta, mas que nada o penetra, ‘tudo pára na pele’. Outra personagem classifica pessoas como ‘permeáveis’ e ‘impermeáveis’, conferindo às primeiras uma maior possibilidade de felicidade, de compreensão.
Está colocada, então, a questão da comunicação entre as pessoas, da solidão, das possibilidades de encontro real entre nós. E tudo em um contexto atual, de tempo e localização bem definidos: Nova York pós-AIDS, pós-11 de setembro, quando o conservadorismo galopou – e ainda galopa – pelas bandas de lá. Apesar dessa contextualização, que ajuda a tornar as personagens mais nítidas, essas questões estão rolando por aí há bem mais tempo, e em bem mais lugares. Nossa pele está mais grossa do que antes? Somos mais impermeáveis? Quais são as possibilidades reais de que dispomos de encontro com outro ser humano, em um mundo que privilegia a pressa e a superficialidade?
O final parece ter optado por não responder – ou melhor, esquecer – as perguntas. Ou, ainda, dar uma resposta bem mais superficial do que a que elas mereciam, uma que parou na pele.
September 25, 2007 at 6:03 pm
Passei aqui tantas vezes e não havia nada que cheguei a pensar que você tinha desistido do blog. Hoje encontro dois posts. Que pena, nem vi o filme nem li Platão (quem anda lendo é minha neta) então saio como entrei – calada.
September 26, 2007 at 3:28 am
Ficam então duas dicas, Sonia. Acho que apesar de gostar de dizer que não é acadêmica, você gostaria de ler O Banquete. E é curtinho! Você vai passar mais tempo pensando nele depois da leitura do que lendo.
E o filme… É uma fábula dos dias de hoje. Talvez saia por aqui em DVD, quem sabe? Você também pode pedir sua neta para baixar pela net. 🙂
October 4, 2007 at 7:21 pm
Luciene, gosto mesmo é de ler ficção. Boa ficção, claro. Ou então História, que compartilha com o romance o fato de contar histórias.