Agradeço a Clóvis Rossi por seu artigo e aos leitores que enviaram carta para o painel do leitor, comentando a entrevista do pai de um dos rapazes que agrediram uma transeunte, expressando parte de minha indignação. Apenas parte, porque há elementos impalpáveis, praticamente impossíveis de converter em palavras. Ao usar a expressão ‘coisa feia’ para qualificar o que seu filho e os amigos fizeram, esse pai parece falar de crianças que praticaram uma travessura, como se a vítima tivesse muito pouca importância, e não de adultos que cometeram um crime.

Ao afirmar a necessidade de ‘outra instância’ para punir seu filho, o Sr. Ludovico Bruno, inadvertidamente, deixa claro algo que a hipocrisia cotidiana vela: o desejo que tem uma parte da sociedade de estabelecer de uma vez por todas uma separação bem marcada entre quem existe e quem não existe; quem é cidadão e quem não é; entre os que se pode ‘prender, botar preso, juntar com outros bandidos’  (seria esse ‘outros’ um ato falho?) e aqueles que estão acima da lei, ainda que sejam criminosos confessos.

Confesso que chorei lendo a entrevista. A mim me parece que a violência contínua a que estamos submetidos começa a nos contaminar de forma essencial. À indagação de Anna Veronica Mautner, eu responderia que a barbárie só não está tão mais à vista porque está dentro de nós e não queremos enxergá-la.